A CONSTRUÇÃO DA FELICIDADE
31/05/2010 19:14A CONSTRUÇÃO DA FELICIDADE
Helci Rodrigues Pereira
“Não há dever tão esquecido quanto o dever de ser feliz”.
Robert L.Stevenson
Temos dito, reiteradamente, que a felicidade é o fim último, o bem supremo que o ser humano colima e persegue, busca incessantemente, sendo tudo mais meio para conseguir tal fim.
Todos buscam o estado de felicidade, ainda que nem todos concordem quanto aos bens que lhes podem proporcionar a grande dita. Uns buscam-na nos bens corporais; outros, no exercício das faculdades instintivas; outros, na virtude (mas, que é virtude?); outros, ainda, no conjunto dos bens finitos. Então, onde estará a felicidade? Qual será, dentre todos os bens, aquele que pode realmente assegurar felicidade ao coração? Qual a fonte da felicidade?
Certo que o desejo de ser feliz é natural a todo o ser vivo e consciente, o que nos leva a ponderar que o bem capaz de satisfazer tal desejo deverá ser um bem desejado por si mesmo, um bem estável e que esteja ao alcance da pessoa e, ainda, que não traga consigo qualquer mal.
Em conseqüência desse arrazoado, é de verificar-se que nenhum bem terráqueo poderá, por si, ser fundamento para a felicidade, pela simples razão que os bens criados (ciência, virtude, honrarias, saúde, riquezas e outros) são instáveis, misturados com males, com efeitos colaterais, às vezes trabalhosos, e não são comuns a todos.
Uma segunda conseqüência será que todos esses bens juntos não poderiam satisfazer aos desejos profundos do homem, porque eles todos, em bloco, participam da fragilidade e relatividade dos bens particulares que totalizam.
Não podemos nos equivocar! Felicidade perfeita está em Deus, no qual vamos encontrar o bem supremo. Ele pode fazer o homem feliz nos dois sentidos: de oferecer-lhe condições de momentos felizes mais duráveis, aqui na terra, e meios de conquistar a felicidade total, não relativa, não instável, plena, fora das contingências desse mundo "posto no maligno", na outra dimensão, no porvir. Então, o homem poderá ser realmente feliz, sempre feliz.
Aurélio Agostinho - 354 d.C., bispo de Hipona, na África - perdido no mundo e infeliz pela ausência de Deus, orava: "Ó Deus! Fizeste-me para ti, e meu coração estará sempre inquieto, enquanto não descansar em ti".
A felicidade é uma construção e não uma dádiva. O homem foi criado para a felicidade e recebeu do Criador os elementos para produzi-la, mas o homem tem falhado terrivelmente nessa construção, porque vive às voltas, indo longe em busca daquilo que poderá encontrar dentro de si. Sem dúvida, a felicidade como a "síntese das aspirações humanas" é para ser conquistada. "A felicidade não se encontra, faz-se".
"A felicidade é a consciência de um bem, e quanto maior e mais duradouro for este bem, maior será a felicidade. Quem busca a felicidade fora de si mesmo é como um caracol buscando sua própria casa".
Uma grande verdade, posto que a chave da felicidade foi posta no coração do ser humano, mas ele tem dificuldade de adentrar-se, de interiorizar-se para fazer uso da chave.
Fulton Sheen, bispo, escritor e educador norte-americano, pregador da catedral de Westminster, considerando a felicidade como um fim racional, defende que ela vem da perfeição moral que se expressa em atos. Seja, felicidade completa só em Deus.
"A meta da felicidade que o homem procura não se acha no egoísmo individual nem coletivo (...) e sim na verdade perfeita, que satisfaz a vontade - está em Deus".
Tomás de Aquino -1225- teólogo e filósofo católico do séc. 13, o Doutor Angélico, assim se pronunciou: "É impossível a qualquer bem criado construir a felicidade do homem, porque a felicidade é o bem perfeito que satisfaz completamente o desejo; do contrário, não seria o bem último, pois algo haveria ainda a desejar. Ora, o objeto da vontade, isto é, o desejo do homem, é o bem universal. Daí, é evidente que nada pode satisfazer a vontade do homem, salvo o bem universal. Este se encontra em Deus, e não em qualquer criatura, porque toda criatura possui bondade por participação. Eis porque só Deus pode satisfazer a vontade do homem, segundo as palavras do Salmo 103.5:"É Ele quem satisfaz o vosso desejo com coisas boas".
Destarte, somente Deus constitui a felicidade completa que pode ser alcançada por três caminhos:
O caminho de felicidade é o do êxito no desempenho de papéis. Considerada a felicidade deste ponto de vista, poder-se-ia dizer que contribui para a felicidade pessoal o sucesso na habilidade de conviver, ajudando, sendo ajudado e obtendo a satisfação das necessidades básicas (comida, proteção, afeto e comunhão ou fuga da solidão). Afirmaríamos, até, que contribui para a felicidade pessoal ou coletiva o sucesso no desempenho de papéis sociais, e esse sucesso, conseqüentemente, o estado feliz, é diretamente proporcional ao grau de consideração e responsabilidade com que a pessoa desempenha seus papéis no mundo das relações interpessoais.
O caminho da felicidade é a senda da verdade, a verdade que liberta. "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", já pregava Jesus, o Mestre magistral. Conhecer a verdade, incorporar a verdade, adequar a ação à verdade, viver a verdade e encarnar a verdade em amor - eis o caminho sobremodo excelente.
Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".
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