CULTURA E DELINQÜÊNCIA
30-05-2010 17:56CULTURA E DELINQÜÊNCIA
Helci Rodrigues Pereira
“Não deveríamos encarcerar a sociedade que fez destas crianças os jovens ladrões que se tornaram?”.
Dr. Vences Chalegre Mueller
Indubitavelmente, na influência da aquisição do comportamento delinqüente, depois da família vem o ambiente social em que a criança está inserida. Prova disso, mais uma vez, encontramos nos estudos de Spergel, em Chicago, em 1964. Segue uma síntese.
Perguntado a crianças de áreas diferentes da cidade “qual era a ocupação de adultos do seu bairro que gostariam de ter dentro de dez anos” foram obtidas as seguintes respostas:
Oito décimos (8/10) das crianças da área mais abastada, onde dois quintos (2/5) dos moradores eram de ítalo-americanos, responderam referindo-se a “algum aspecto do crime mais sindicalizado”; a maioria das crianças da área onde dois terços (2/3) dos moradores eram porto-riquenhos e um quarto (1/4) negros, respondeu queria “defender a zona”, o que significaria estar numa gang. Sendo a “briga” uma das principais atividades do habitantes.
Crianças da área da cidade onde o principal crime era roubo de carros, responderam, geralmente, mencionando tal atividade.
A pesquisa demonstrou que, nas três áreas, o comportamento dos adolescentes foi considerado como sendo uma conformidade com o modelo de um elemento de “destaque” da área.
Num relatório do Bureau de Processamento dos EEUU, de 1923, temos alguns dados que confirmam que a sociedade e a cultura são responsáveis pela delinqüência, em grande parte. Naquele relatório vê-se, entre outras coisas, que há uma proporção bem maior de analfabetismo no grupo delinqüente; também, muito mais freqüentes são os casos de divórcio entre pais de pessoas que se tornaram delinqüentes.
A sociedade contribui para a delinqüência, direta ou indiretamente. Através dos meios de comunicação, da publicidade, nós estamos constantemente sendo convencidos, por exemplo, a viver como não podemos. As grandes propagandas estão, a todo instante, estimulando as pessoas ao consumo, estão despertando, até, necessidades que não podem ser satisfeitas por muitas pessoas exatamente em virtude das miseráveis condições com relação ao seu poder aquisitivo das pessoas. Então, as estruturas da sociedade são simplesmente inumanas, desde quando as pessoas são induzidas ao roubo, direta ou indiretamente, e depois são presas.
Acreditamos que a maioria dos delinqüentes de classes sem recursos e sem orientação é de pessoas que, pressionadas pela publicidade, vêem no assalto/roubo a forma de realizar o sonho acalentado de possuir o que desejam, e de uma forma imediata.
Com bastante razão, o Dr. Vences Chalegre Mueller, articulista da Revista MOCIDADE, de novembro de 1976, da Casa Publicadora Brasileira, quando protesta, veementemente: “Não deveríamos encarcerar a sociedade que fez destas crianças os jovens ladrões que se tornaram?”.
Nos estudos sociológicos há um destaque da correlação entre DELINQÜÊNCIA e ÁREA MARGINAL.
Clifford Shaw constatou tal fato estudando o tipo de circunvizinhança e seu coeficiente de delinqüência juvenil. Na cidade de Boston, a delinqüência era de nível bem mais alto em regiões de favelas, áreas de manobras de trens, terrenos baldios, fábricas e armazéns falidos, enquanto lá para as regiões fronteiriças, nas áreas residenciais cai bastante aquele coeficiente.
Ainda, como argumento cumulativo, citamos o estudo de William Healy, que descobriu que quase dois terços (2/3) da delinqüência infantil em Chicago e Boston remontam a maus companheiros. Também, Arthur T. Jersild, em sua Psicologia da Criança, levanta a questão de que, no ambiente social, as condições econômicas podem ter muito avir-se com o comportamento delinqüente.
Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".
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