FELICIDADE - EM QUE CONSISTE

31/05/2010 19:17

FELICIDADE - EM QUE CONSISTE
 Helci Rodrigues Pereira

“Não sei qual será o seu destino, mas uma coisa eu sei: os únicos dentre vocês que serão realmente felizes são os que procurarem e encontrarem um meio de Servir”.
Albert Schweitzer

Multivariadas são as respostas ao questionamento supra. Façamos uma breve incursão na galeria dos pensadores, no sentido de haurir opiniões deles a tal respeito.

A abordagem aristotélica - 384 a.C. -, foi, em resumo: "A felicidade deve resultar para nós do progresso e da perfeição e da atividade da razão ou exercício da inteligência na sua forma mais alta, a saber, a contemplação da verdade".

Para o estoicismo, felicidade consistia na liberdade de toda a perturbação, na tranqüilidade da alma, na independência interior, na autarcia (auto-suficiência, auto-satisfação), na indiferença, na apatia ante a vida, a morte, a saúde, a doença, o repouso, a fadiga, a riqueza, a pobreza, as honras e a obscuridade.

Para o epicurismo, felicidade consistia na liberdade, na paz. Epicuro - 341 a.C. -, para quem o prazer era o bem supremo, apresentava como condições fundamentais da felicidade o seguinte: "Não sofrer no corpo, satisfazendo suas necessidades essenciais para estar tranqüilo; não ser perturbado no espírito, renunciando todos os desejos possíveis, visto ser o desejo o inimigo do sossego".

Que pensamos nós? Se a felicidade consistir na "contemplação da verdade"; na liberdade de toda a perturbação, na auto-suficiência e na satisfação de todas necessidades essenciais, por certo, mais uma vez, é de deduzir-se a impossibilidade, no mundo dos homens, da verdadeira felicidade.

Informa-nos Fulton Sheen, em sua Filosofia da Religião, que J. J. Rousseau, filósofo e moralista francês do século XVIII, de Genebra, Suíça, esposava e expunha a seguinte percepção da problemática em foco, que sintetizamos: "O estado de felicidade do homem corresponde ao estado de natureza em que o ser humano levava, como homem natural, uma vida solitária, selvagem, despreocupada, mas feliz, sem necessidades impossíveis de satisfação apenas pelos instintos, quando o homem era independente e autárquico, bastando-se a si mesmo. Com o desenvolvimento da humanidade e a evolução da civilização e do egoísmo, a sua felicidade passa a ser perturbada pela competição, pela guerra, pelo assassínio e por todos os males da vida social" (Sheen, Filosofia da Religião).

Daí, concluímos que nenhum bem do mundo, hoje, pode fazer o homem verdadeiramente feliz (referimo-nos aos bens criados) em toda a extensão do termo, ainda que lhe propicie sentir-se momentaneamente bem.

Aldous Huxley, em seu "Admirável Mundo Novo", descreve uma sociedade feliz assim: "O mundo é estável agora. O povo é feliz; eles têm o que querem e nunca querem o que não podem ter. Estão seguros, nunca estão doentes, não têm medo da morte; estão satisfeitos, ignorando a paixão e a velhice. Não se incomodam com o fato de não ter pai e mãe; eles não têm esposas ou filhos, ou amantes para ter profundos sentimentos de respeito; são tão condicionados que não poderiam, praticamente, mudar seu comportamento, mesmo que quisessem" (sic).

Obviamente, temos aí um ideal irrealizável dentro das estruturas do mundo em que vivemos, um mundo em chamas. Tal sociedade feliz de Huxley nós a teremos só na supra-história, no mundo restaurado, quando, então, teremos o novo céu e a nova terra descritos pictoricamente no Apocalipse, mundo onde "a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor".

A verdadeira felicidade será concretizada em toda a sua plenitude na restauração de todas as coisas, quando o homem, livre das contingências e das amarras do mal, tiver uma ambientação que lhe propicie aquele estado de perfeita paz, conforme proclamada pelo profeta Isaías: "O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sob a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor" (Isaías 11.6-9).



Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".

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