HOMOSSEXUALISMO E BÍBLIA
HOMOSSEXUALISMO E BÍBLIA
Helci Rodrigues Pereira
Ultimamente, muito se tem dito, escrito e divulgado, pelos meios de comunicação, em referência à “orientação sexual”, à “preferência sexual”, a “opção sexual” da pessoa humana.
Gostaríamos de opinar a respeito.
Antes, porém, não tergiversamos em nos opor contrariamente a qualquer atitude, de qualquer parte, que agrida ao direito de ser da criatura humana, que fira a dignidade, a cidadania e os brios dos indivíduos em virtude de suas preferências e opões de qualquer ordem, de qualquer natureza: política, religiosa, filosófica, ética, etc..
Opomo-nos a quaisquer atentados ao exercício dos direitos humanos, incluindo aí o direito de mordomia que o ser humano desfruta. O direito que lhe é assegurado de administrar a sua vida, aquilo que tem, aquilo que é, aquilo que quer e aquilo que faz, desde que não prejudique o outro e reconheça aos demais os mesmos direitos.
Em matérias publicadas num dos jornais desta cidade (O JORNAL), em 02/07/97 e 28/03/00, o articulista, Marcelo Nascimento, veio a manifestar sua justa indignação a declarações que considerou insensatas e comentários desairosos emitidos por duas autoridades católicas de Maceió e Fortaleza. Estamos de pleno acordo com seu desforço.
Contudo, com todo o respeito, permissa venia, sentimo-nos no dever de tecer alguns comentários, discordando de algumas afirmações contidas nas matérias supramencionadas. São as afirmações de que na Bíblia há casos de amor entre homens, a exemplo da paixão de Davi por Jônatas, citada em II Samuel 1.26; de que existem referências positivas ao homossexualismo na própria Bíblia, como em Eclesiastes 4.11, em Rute 1.15-17 e de que “desde o tempo dos gregos até os orixás, respeitam os homossexuais e têm até divindades e santos que praticam esta forma de amor”.
O referido escritor aponta a amizade entre o jovem Davi, e Jonas, filho mais velho de Saul, primeiro rei de Israel, como um exemplo bíblico de homossexualismo. Terá sido? Vejamos!
Em II Samuel 1.17 a 26 nós lemos sobre o pranto de Davi por Saul e Jônatas, após a morte dos mesmos numa batalha contra os filisteus:
“E lamentou Davi a Saul e a Jônatas, seu filho, com esta lamentação: ... Do sangue dos feridos, da gordura dos valentes, nunca se retirou para trás o arco de Jônatas, nem voltou vazia a espada de Saul.
Saul e Jônatas, tão amados e queridos na sua vida, também na sua morte não se separaram; eram mais ligeiros do que as águias, mais fortes do que os leões.
Vós, filhas de Israel, chorai por Saul, que vos vestia de escarlata em delícias, que vos fazia trazer ornamentos de ouro sobre os vossos vestidos.
Como caíram os valentes no meio da peleja! Jônatas nos teus altos foi ferido.
Angustiado estou por ti, meu amado irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres ...“.
O que temos acima, na verdade, é uma das mais belas e comoventes odes que jamais se escreveram, plena de generosidade para com Saul que tão amargamente fizera sofrer Davi, e para com Jônatas, filho de Saul, amigo do peito, íntimo, vero irmão de Davi.
Aqui temos a ode do pranto, do lamento, o cântico ou elegia fúnebre incomparavelmente pungente e bela. Não nos passe despercebido o extraordinário amor a Saul – um inimigo -, a sublime emoção que permeia todo o poema, e o amor a Jônatas, um amor quase ímpar entre os homens, maior do que o amor que se tem às mulheres, quer dizer, amor profundo sem conotação sexual.
Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".