AMIGO DE VERDADE

AMIGO DE VERDADE
 Helci Rodrigues Pereira

“As amizades multiplicam as alegrias e dividem as tristezas”.  Thomas Fuller

A História nos dá conta da decepção de Camilo Castelo Branco, escritor e romancista português do século XIX, relativamente aos inumeráveis amigos que imaginava possuir. Num lindo soneto, assim expressara sua mágoa: 

Amigos, cento e dez, e, talvez mais,
eu já contei. Vaidades que sentia.
Pensei que sobre a terra não havia
mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos, cento e dez, tão serviçais,
tão zelosos das leis de cortesia, 
que eu, já farto de os ver, me escapulia
às suas curvaturas vertebrais.
Um dia, adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente
que não desfez os laços, quase rotos,
 Que vamos nós, diziam, lá fazer,
se ele está cego e não nos pode ver?
Que cento e nove impávidos marotos!

Salomão, o sábio rei do legendário povo de Israel, já afirmava que algumas bênçãos da vida são: um espírito animado, uma boa esposa e um legítimo amigo (Provérbios 18). Prelecionava mais "Algumas amizades não duram nada, mas um verdadeiro amigo é mais chegado que um irmão de sangue" (Idem). E acrescentava: "Em todo tempo ama o amigo, e na desgraça ele se torna um irmão" (Provérbios 17.17).

Jesus era um amigo de verdade. Digno de imitação. Era uma pessoa legal. O amigo que todos gostariam de ter. Era um exemplo. Que qualidades Jesus encarnava como um amigo de verdade?

Era uma pessoa agradável. Gostava de música, de poesia, de crianças, de flores, de pássaros, da madrugada, do mar, do sol, da lua, das estrelas, do assobio do vento, do murmúrio da brisa, da chuva...

Não demonstrava preocupação, mas era sensível. Chorava com os tristes, sorria com os alegres e tinha um fino senso de humor. Todos apreciavam sua companhia. Um amigo verdadeiro é uma pessoa agradável! E como ele era!

Estava sempre disponível. Jesus era uma pessoa extremamente aberta. Todos se sentiam à vontade com ele. Era acessível e informal. Gostava da simplicidade. Nunca deixou de ouvir alguém. Quando procurado, era encontrado e dava atenção.

Não fazia diferença entre as pessoas. Aceitava que fizessem parte do seu círculo de amizade os mais diversos tipos de pessoas: os rejeitados pela sociedade, os pobres, os incultos, os deficientes, os imorais, as mulheres discriminadas, as crianças menosprezadas, os de outras raças, os desonestos, os portadores de doenças contagiosas...

Se vivesse hoje, seria, também, amigo de aidéticos, de homossexuais, de toxicômanos, de marginais, de negros, de mães solteiras, de prostitutas, de gente de toda a classe.

Aceitava as pessoas do jeito que eram. Era amigo de pessoas desonestas e imorais, mas não as procurava modificar por imposição. Aceitava e respeitava o jeito delas serem, porque sabia que para transformar não adianta apontar defeitos, nem censurar coisas erradas. Não conseguimos modificar as pessoas por ação direta. Elas mudam por reação. Quando somos diferentes, nossos amigos podem se tornar diferentes sem que lhes digamos que precisam mudar. A convivência torna as pessoas parecidas.

Acreditava no potencial das pessoas. Jesus não via seus amigos cheios de defeitos como eles eram. Imaginava sempre o que eles poderiam vir a ser, com a ajuda de Deus, se quisessem. Ele as tratava não como eram, mas como se já fossem o que deveriam ser. Jesus sabia o que, bem mais tarde, Goethe veio a saber: “Se você tratar uma pessoa como ela é, ela se tornará pior; mas, se a tratar como se ela fosse o que deveria ser, ela se tornará melhor, transformar-se-á no que deveria ser”.     

Não deixava seus amigos na mão. Tinha solução para todos os problemas, respostas para todas as perguntas. Era para o que desse e viesse. Estava sempre pronto a apoiar seus amigos.

Mas não os ajudava demais, não era paternalista. Não fazia pelos seus amigos o que eles podiam fazer por si mesmos. Não estimulava a superdependência.

Sabia guardar segredo. Seus amigos lhe confiavam seus problemas e lhe confessavam seus pecados, mas ele não comentava com ninguém. Conhecia os problemas de muitos, mas não espalhava. Era uma pessoa em quem se podia confiar. Nunca divulgou um segredo, nem mesmo o de Judas Iscariotes. E o considerou amigo até o fim!

Você é um amigo de verdade? Você tem a Jesus como seu amigo e exemplo de amizade verdadeira? Consegue ser agradável em boa medida? Trata igualmente a todos os que procuram desfrutar de sua amizade? Está sempre disponível para atender a seus amigos? Aceita as pessoas como são, sem as recriminar, sem exigir? Acredita no potencial das pessoas? Você não deixa um amigo na mão? Você consegue guardar segredos?


Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".

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