SINTOMAS DA DEPRESSÃO
SINTOMAS DA DEPRESSÃO
Helci Rodrigues Pereira
“O riso é uma escova que consegue tirar as teias de aranha do coração”.
Mort Walker e king Features
Reflitamos um pouco sobre as causas da depressão. Detenhamo-nos, agora, nos seus sintomas. Inicialmente, temos um caso real.
Graciela, 36, casada, dois filhos. Angustiosa vivência depressiva. Tensa, nervosa, pálida, com a expressão facial marcada por tantas noites de insônia e pranto. Ela Desabafa:
“Que coisa horrível! Estou desesperada! Não agüento mais! Isso é pior do que câncer! É terrível! Desde que caí nesse poço (astenia), não tenho interesse por nada (desmotivação). Coisa alguma me desperta a atenção. Para mim, tudo é a mesma coisa (apatia). Não tenho vontade de sair para lugar algum (retração). Passo a maior parte do tempo deitada. A alimentação me repugna (anorexia). Já perdi cerca de cinco quilos de peso. Tenho medo de tudo (fobias) ... e vivo com uma angústia por dentro de mim (opressão sobre o peito, somatizações). Sinto muita vontade de chorar (pranto fácil). É um verdadeiro pesadelo. Acho que nunca vou sarar (desesperança). Às vezes, penso que seria melhor acabar de vez com essa vida miserável” (idéias suicidas).
Aqui se revela o drama do deprimido e a sintomatologia de uma enfermidade atroz. Muito bem escreveu o Dr. J. Thuillier:
“A depressão é a maneira de viver, é a condição que nos domina a existência quando deixamos de contemplar o céu, quando permitimos que os problemas venham desabar sobre nossa cabeça. A depressão é a enfermidade mental de nossa época, a mais corriqueira, a mais comum e a mais conhecida de todos”.
Antes de qualquer comentário, vamos a alguns dados estatísticos:
Na década de 80, vinte milhões de norte-americanos possuíam um grau de depressão sério, ainda que somente 25% destes tivessem procurado tratamento.
Dados estatísticos de 1996 atestam que 6 a 7% de norte-americanos adultos ( mais de 17 milhões de homens e mulheres ) entram em depressão (Instituto Nacional de Saúde Mental - INSM).
As informações que temos são alarmantes: 24.000 pacientes depressivos, incluindo grande número de adolescentes, acabam se suicidando, segundo se crê, muitas vezes antes que sua doença seja identificada; mais de 150 milhões de pessoas hoje passam por crise severa de depressão.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 4% da população mundial é vítima deste mal; 10 a 20% dos que procuram médico sofrem de depressão .
Pesquisas mostram que 15% dos adultos na faixa etária de 18 a 74 anos podem apresentar sintomas de depressão séria.
Estudos sobre condições psicossociais dizem que: sentimento de infelicidade atinge 6% dos homens e 1% das mulheres; sensação de desesperança atinge um quarto da população de ambos os sexos: uma, em cada cinco pessoas, sofre de branda depressão; 90% das donas de casa passam por crises de depressão; crianças ficam deprimidas - um terço com depressão de natureza neuro-clínica e dois terços por fatos emocionais desfavoráveis.
Listemos alguns dos sintomas da depressão, lembrando que a persistência, no comportamento da pessoa, de um ou mais dos a seguir referidos pode indicar a existência de um processo de depressão:
Tristeza, que caracteriza a pessoa desconsolada, infeliz, abandonada, desgostosa, magoada, cabisbaixa, sem pronunciar palavra, até (silêncio súbito).
Sentimento de inferioridade, que maltrata o indivíduo dominado pelo sentimento de menor valimento. Trata-se da pessoa que sempre se vê como sendo inferior, em vários aspectos, aos outros.
Pessimismo, que descreve a pessoa desanimada, falta de esperança, antecipadora do seu próprio fracasso, descrente na melhora das coisas e situações, tendente a julgar as coisas pelo lado mais desfavorável, imbuída do sentimento do desagradável. Ela diz, sempre: “De que adianta? As coisas nunca hão de melhorar. Sou um fracassado”.
Sensação de cansaço. O indivíduo usa de tal forma suas energias em seus conflitos, seus sentimentos de inferioridade, seus pessimismos, que sente-se cansado, fatigado, afadigado, aborrecido, enfastiado, sem energia, sem vida.
Sentimento de ser incapaz. A pessoa cria de si mesmo a imagem de um ser incapaz de satisfazer suas próprias expectativas em uma atuação específica.
Sensação de desencorajamento. O paciente não tem coragem para enfrentar uma situação. Este sentimento vem de uma imagem que cria de si mesmo, de imperfeição.
Sensação de desesperança. É a imagem ou imaginação de que o futuro não trará a realização de uma expectativa positiva.
Tensão. A energia bloqueada, quando não é devidamente usada, mas estocada por um longo período, pode ser experienciada como desagradável, vindo a tornar-se em sofrimento e causar, até, doenças psicossomáticas. Postura levemente curva em direção ao solo...
Sentimento de melancolia e de angústia. É o sentimento de tristeza associado com o de rejeição. “Sentimento incômodo de insuficiência vital que consome nossa existência agitada”. A pessoa vê-se como o “não querido”, o"desprezado", o "abandonado". Pode dizer, como por alguém já dito: “Se eu morresse hoje, ninguém derramaria uma lágrima e ao fim de uma semana já ninguém no mundo teria um pensamento para mim”.
Perguntado a um senhor idoso, internado numa enfermaria, qual o seu problema, a resposta foi: “Sinto-me tão só!"
O melancólico é Cheio de mágoa, pesar e misantropia (aversão à sociedade ).
Sensação de ansiedade. Mal-estar ao mesmo tempo psíquico e físico, caracterizado por temor difuso, sentimento de insegurança, de desgraça, de angústia....
Pensamentos suicidas. São uma expressão de um esforço para eliminar a auto-imagem que a própria pessoa criou inconscientemente de si mesma.
Exageração de acontecimentos de pequena monta. “O patrão não veio me cumprimentar. Vai ver que ele não está satisfeito comigo!”. Aqui, vale o comentário do Dr. Goodwin: “Num nível muito sutil, quem sempre viu o copo como cheio passa a vê-lo como meio vazio. Pequenos fatos que antes teriam parecido perfeitamente insignificantes passam a ter muita importância e a se tornarem motivo de grande preocupação”.
Irritabilidade. A irritação e a fúria são o manto com que os depressivos muitas vezes disfarçam sua tristeza e seu isolamento.
Uma resposta colérica ou irritada ao deprimido torna as coisas ainda piores, transformando uma discussão sem grande importância numa verdadeira tempestade.
O resultado é que a pessoa deprimida sente-se pior a respeito de si mesma, tornando a depressão ainda mais acentuada.
Refúgio na rotina. Um sinal de depressão ocorre quando “uma pessoa que sempre foi dinâmica e interessada por diversas atividades passa a ter uma atitude passiva e a refugiar-se no banal do cotidiano” (Goodwin).
Descuido com a aparência ou perda de interesse para consigo mesmo. Não é comum que uma pessoa, que sempre mostrou interesse e cuidado com sua aparência pessoal, passe, de repente, a se mostrar desinteressada por tudo isso e a apresentar desleixo.
Indecisão. Dificuldade em escolher o cardápio, por exemplo, em decidir o quer vai fazer, que canal de TV quer assistir, se vai ou não àquela reunião, etc.
A indecisão acompanha, muitas vezes, a falta de concentração dos deprimidos, sendo esta, às vezes, o único sintoma aparente. Tomar decisões é uma fardo para a pessoa em depressão.
Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".