A FELICIDADE- ONDE NÃO ESTÁ
A FELICIDADE - ONDE NÃO ESTÁ
Helci Rodrigues Pereira
“A felicidade é o subproduto do esforço de fazer o próximo feliz”.
Greta Palmer
O ser humano vive no afã de ser feliz, cada vez mais feliz, e se pergunta: Onde estará a felicidade? Como poderei ser feliz? Façamos uma reflexão a respeito.
De uma banda, a felicidade não está na riqueza, por motivo mais do que óbvio - a riqueza não satisfaz. Como prova, é bom saber que, em apenas um ano, suicidaram-se 80 (oitenta) milionários nos Estados Unidos da América do Norte.
As riquezas e o poder delas derivado, quando muito, podem oferecer alívio momentâneo ou temporal, mas não dão à consciência uma realidade que a satisfaça plenamente. Via de regra, quem almeja “X” - Riqueza e encontra, passa a desejar “X+Y”, jamais se contentando.
O homem é uma criatura insaciável. Caso espere ser feliz em sendo rico, o dinheiro não lhe satisfará os desejos do coração, e continuará descontente e ansioso por mais riquezas. Quem não está contente não é feliz.
A pobreza e a falta de bens materiais não fizeram de Paulo, o apóstolo das nações, uma pessoa infeliz, por um motivo bem simples: ele aprendera a se contentar com o que tinha. Chegara a dizer: "Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. De tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura como de fome, assim de abundância como de escassez".
Humberto de Campos (1886), o Príncipe dos Prosadores brasileiros, abordando a temática da riqueza e da pobreza, escreveu sabiamente: “ ... com todo o seu dom de milagres, dará o dinheiro felicidade àqueles que se julgam felizes? Quando Cristo, consultado maliciosamente pelos fariseus, lhes disse que dessem a César a moeda em que houvesse o cunho real do Império Romano, legou o mais piedoso dos ensinamentos aos futuros argonautas da felicidade. Esta, não obstante seu tênue reflexo entre as coisas terrestres, é uma das pedras mais puras dos luminosos tesouros do céu. É Deus quem a dá, e como todos os bens do céus, só se adquire com a moeda em que houver a efígie de Deus" (Obras Completas de H. de Campos).
E prossegue o escritor: "Um jornalista carioca revelava há dias, entre o noticiário anônimo de um vespertino, o espetáculo de pobreza, de miséria impressionante que deparara em um agreste desvão de montanha, nas proximidades de Cascadura. Era um albergue de esteiras de um metro e meio, aonde os moradores penetravam de ventre na terra, como vermes. Lá dentro cabiam apenas três seres: um homem, u'a mulher e um cão.
- De que vivem vocês? Perguntou o jornalista à mulher.
- De frutas podres que meu marido apanha nos monturos.
- És feliz ? A resposta: Sim, sou porque vivo com ele...". Vale meditar nisso!
D’outra banda, a felicidade não está no Prazer e no Vício, como se afigura a tantos. Os vícios produzem "prazer" que termina, grosso modo, em abjeção, enfado, tédio, enfermidade, remorso e morte prematura.
Não pode haver felicidade no caminho do vício porque os que se entregam aos maus hábitos, às coisas baixas, ao prazer ilícito e inconveniente, sempre experimentam, após uma satisfação efêmera - que consideram felicidade -, um vazio amargurado e persistente, que os torna ainda mais frustrados e infelizes.
O estado temporário de êxtase do drogado, por exemplo, não é elemento de felicidade. Tais estados são freqüentemente seguidos por estados permanentes de infelicidade, como se observa nas mortes de músicos populares do rock. Exemplos: JANIS JOPLIN, cantor de blues, ídolo de milhares, morreu em outubro de 1970, com a idade de 27 anos, por superdosagem de drogas. No mês anterior, o igualmente conhecido JIMI HENDRIX morreu em um apartamento londrino, em conseqüência de sufocação por vômitos, enquanto inconsciente, presumivelmente por drogas. AL WILSON, guitarrista do grupo de rock Canned Heat, morreu em conseqüência de uma superdosagem de pílulas para dormir. Quem tem cabeça para pensar, pense!
Julio Iglésias, apreciado e laureado cantor internacional de multidões, é riquíssimo. É dono de uma ilha, para começar. Vive em torre de marfim. Canta e encanta. Vive e sobrevive cantando.
Pois bem. Numa entrevista, há pouco tempo, perguntado, confessou a uma repórter: "EU NÃO SOU FELIZ".
Paul Chachard prelecionou: "Não pode haver vera felicidade na agitação, na desordem, senão na tranqüilidade, no recolhimento, na vida moderada. A felicidade há-se de encontrar verdadeiramente na satisfação interior, e se fundamenta na paz imperturbável, que absorve todos os pensamentos e desejos".
Quem pensa encontrar a felicidade na riqueza provavelmente supõe que, com dinheiro, tudo se compra. Se assim fosse realmente, não testemunharíamos o horrível tédio a prostrar pessoas que vivem no apogeu, nadando em ouro, e não registraríamos as alarmantes taxas de suicídio nos países mais ricos e nas camadas sociais mais afortunadas.
O verdadeiro caminho da felicidade é a senda da satisfação das tendências mais nobres do ser: o DEVER, a VONTADE, o BEM DO PRÓXIMO e DEUS.
Não pode haver a desejada felicidade nas diversões imoderadas, nos exageros do lazer. Não é pequeno o número de jovens que se cumulam de diversões e noitadas e que tentam preencher o vácuo e o vazio do seu espírito com as chocarrarias e as agitações desenfreadas de suas farras, regadas a álcool e drogas, contudo sentem cada vez mais o vazio do seu coração, de sua mente, de sua alma.
Diríamos, também, que não pode haver felicidade onde existe o espírito de rancor.
A ira, o ressentimento, a maldade, o ciúme e o desejo de vingança são inimigos figadais do estado feliz. A história está pontilhada de pessoas que foram infelicitadas por abrigarem dentro de si o ódio/mágoa que, em última análise, na verdade, têm como primeiras vítimas os seus próprios portadores.
Bem escrevera São Paulo, o apóstolo das gentes, reproduzindo Pitágoras:
"Não se ponha o sol sobre a vossa ira!".
Certamente, acalentar ressentimentos é um óbice seguro à real felicidade.
Isto posto, assentado fica que a felicidade não se acha na fortuna ou nos bens materiais. Não é uma mercadoria. Ela não está na afluência dos prazeres, mesmo os mais altos prazeres do espírito. Ela não está, nem mesmo, na fruição da honra, do prestígio, do poder.
Por tudo isso, é de ver-se que a felicidade que se possa experimentar depende bastante de uma equação interior psicológica e espiritual que nos capacite a encarar o mundo positivamente, vendo à nossa volta a luz divina e contemplando a vida como uma oportunidade de vivenciar, em qualquer situação, o ensino do grande Mestre - Jesus Cristo - de que devemos fazer aos outros tudo aquilo que almejamos que os outros nos façam; de que é fazendo os outros felizes que construímos a nossa própria felicidade.
Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".
