A FELICIDADE EXEMPLIFICADA
A FELICIDADE EXEMPLIFICADA
Helci Rodrigues Pereira
“A verdadeira felicidade social consiste na harmonia e no uso pacífico das satisfações de cada indivíduo”.
Napoleão Bonaparte
Um ônibus corre velozmente rumo ao centro da cidade. Numa das paradas, sobe, pressurosamente, uma idosa senhora, uma velhinha maltrapilha. Parece que chora. Todos notam suas lágrimas. Pranteia muito. Parece que uma grande tristeza lhe invade a alma e lhe cobre o coração. Quem sabe o que vai no escrínio?
O ônibus chega ao seu destino.Todos saltam, inclusive a velhinha. Mais do que depressa, ela pega um lenço e enxuga as lágrimas. Retira da bolsa um punhado de bilhetes de lotearia, força um sorriso que lhe serve de máscara, e começa a gritar a toda força: "QUEM QUER A FELICIDADE? OLHE A GRANDE SORTE! QUEM QUER SER FELIZ?"
A maior parte dos seres humanos encontra-se na situação daquela velhinha, fazendo um enorme esforço para sorrir e dar a aparência de ser feliz, quando, no íntimo, só há tristeza e desengano.
Ser feliz é o sonho das pessoas. É um anelo universal. A felicidade é desejada pelo casal da choupana, pelo monarca em seu palácio, pelo rico em seu bairro aristocrático, pelo nauta nas profundezas, pelo aviador que se eleva à estratosfera, pelos homens de negócio, por todos nós.
A vida é uma luta pela felicidade, mas o espírito insatisfeito manifesta que o homem não encontrou a verdadeira felicidade. O progresso científico e a descoberta de seu próprio poder no mundo não têm satisfeito o ser humano a ponto de fazê-lo sentir-se realmente feliz /realizado.
Tem-se procurado achar a felicidade no estudo, na Ciência, nos prazes carnais, na riqueza, na fama e no poder sob várias formas.
A decepção tem sido uma constante porque a vera felicidade não depende das condições puramente exteriores. Ela é como uma fonte que se mantém, quer chova muito ou pouco.
As pessoas não encontram a verdadeira felicidade porque pensam que ela está nas coisas materiais ou nos prazeres e divertimentos.
Temos o exemplo seguinte: No consultório psicológico, o cliente fala de suas dores d'alma, de suas preocupações, tristezas e desventuras, de sua infelicidade e falta de alegria de viver. O psicólogo passa para o mesmo uma receita e, como parte dela, dá-lhe um conselho no sentido de aliviar-lhe a dor. Diz o profissional: "Há, em nossa cidade, um grande circo, no qual existe um famoso palhaço. Todos da cidade comentam sobre a alegria que aquele palhaço infunde e transmite aos espectadores. Vá ao circo e isso lhe fará bem. Enquanto o psicólogo falava do palhaço que fazia os outros rirem, que transmitia felicidade, o seu cliente deixava rolar pela face lágrimas profusas que revelavam profundo desencanto. Ao perguntar-lhe o psicólogo o que estava acontecendo e por que assim chorava, o cliente respondeu: "Doutor, esse palhaço sou eu!"
Por que o ser humano não é feliz na acepção do termo? Porque não busca a felicidade onde está. Bossuet já dizia: "Fonte perene de misérias e amargas desilusões é buscar a felicidade onde Deus não a pôs".
Uma antiga lenda ilustra o fato. Conta-se que, em um ponto vago do planeta, reuniram-se três sábios da época, a fim de esconderem do gênero humano a chave da felicidade.
O primeiro propôs que ela fosse jogada no cimo da mais alta montanha, aonde não chegasse o passo de ninguém, entre as nuvens e as estrelas. O mais experiente dos três lembrou, no entanto, que haveria de chegar o instante em que o gênio descobridor criaria um pássaro metálico capaz de desvendar o mistério dos astros e das constelações e que, assim, a técnica daria à humanidade a solução do segredo.
O segundo sugeriu, então, que a felicidade fosse colocada no fundo dos mares. O mais sábio, porém, lembrou que chegaria, também, o momento em que os homens desceriam aos pélagos profundos e descobririam o segredo da felicidade.
Como esperado, falou o mais sábio: "Para que a chave da felicidade nunca seja encontrada, devemos colocá-la dentro do coração de cada pessoa".
De fato, através dos tempos o homem tem subido acima das mais altas nuvens e descido aos mais profundos dos oceanos. Com seu egoísmo tem ensangüentado a terra e tem sido dominado pelas vaidades, mas não encontrou tempo para entrar dentro de si mesmo e ouvir os conselhos de seu próprio coração.
Ninguém encontrará, jamais, a felicidade, enquanto estiver correndo louca e desenfreadamente em busca de dinheiro e de coisas materiais.
O homem achará a chave da felicidade quando buscar primeiro o Reino de Deus e der o devido valor aos bens espirituais: honestidade, sinceridade, amor, espírito de serviço, de sacrifício, o fazer o bem a todos, indistintamente, a pureza, o perdão, a mansidão e o respeito ao próximo.
Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".