O CARÁTER

O CARÁTER
Helci Rodrigues Pereira


“O verdadeiro caráter sempre aparece nas grandes circunstâncias”.
Napoleão Bonaparte

O leitor deve conhecer o critério kantiano relativo à aceitabilidade ou não de determinado princípio ético ou forma de comportamento. O critério consiste em perguntar-se a si próprio: que acontecerá se todos agirem como eu estou agindo ou pensando em fazê-lo? Damos um exemplo. Alguém resolve adotar o princípio da mentira para defender-se, nas suas relações com os demais. Devera, antes, imaginar: o que seria de mim, se os outros agissem assim com relação à minha pessoa? O que seria da sociedade, se todos seguissem tal princípio de conduta?

Infelizmente, o egoísmo humano deixa de lado esse critério. Quer apenas saber dos seus interesses, sem se preocupar com o que possa acontecer aos demais.

Temos o exemplo de um humorista, que jamais consentia que membros de sua família fossem ao teatro quando ele representava. Não queria corrompê-los com suas anedotas.

Contudo, àquele humorista pouco importava que, por meio de seu humorismo envenenado,outras famílias se pervertessem.

Como aquele artista há muita gente no palco da vida que põe em prática, em seus relacionamentos, métodos tão condenáveis como os do infeliz ator.

Os princípios que cooptamos para nossa vida devem ser elevados,  nobres, tais como os da verdade, da justiça, da honestidade e do amor. 

Nosso caráter depende não apenas dos princípios observados, mas, também, de estímulos para o exercício dos mesmos. Duas fontes de estímulos são muito importantes, dentr’outras: a leitura de bons livros e autores e o contato diuturno com  Cristo e sua Palavra.

Já nos referimos ao perigo da leitura de obras más e perniciosas. Mutatis mutandis, a boa leitura pode exercer um estímulo extraordinário no sentido de que a pessoa ponha em prática seus princípios elevados de vida. 

Certa vez, perguntaram a Coelho Neto a respeito de como conseguira o riquíssimo vocabulário com que jogava nos seus escritos, ao que veio a responder: lendo Camilo.

Sem qualquer sombra de dúvida, a leitura representa um tônico eficaz para as vontades combalidas. Aqui, cabe o exemplo de Pasteur. Segue abaixo.
Houve uma época, na vida do cientista, em que ele se encontrava preocupadíssimo com a salvação da indústria do seu país, ameaçada por uma praga que devastava os bichos da seda. Desejando debelá-la, o sábio entregou-se a pesquisas quase que intermináveis. Em dado momento, começou ele a vislumbrar a causa do mal que queria combater. Fez experiências, cujos resultados pareciam satisfatórios. A vitória, que seria, também, do seu rincão estava prestes a ser alcançada.

Foi precisamente nesta época que o grande homem tombou, vítima de uma hemorragia cerebral. Quase morreu. Conseguiu, porém, voltar ao trabalho, paralítico de um lado do corpo. Nunca mais viu corrigido o defeito.

Desejando, ardentemente, prosseguir em suas pesquisas e não sendo possível, caiu numa grande angústia. Tinha a mente cheia de planos que lhe pareciam viáveis. Via o caminho aberto para realizá-los, mas faltava-lhe o essencial: a saúde.

Em conseqüência, caiu numa profunda depressão, não se entregando definitivamente ao desalento que o ameaçava porque teve a oportunidade de ler, na época, o livro de Smiles: Ajuda-te a ti mesmo.

O impulso que recebeu da leitura dessa obra, como ele mesmo o afirma, o levou a trabalhar energicamente, a despeito da debilidade orgânica. Conseguiu realizar o princípio que tinha posto no coração: servir ao progresso do seu país.

Aqui temos o efeito maravilhoso, o estímulo extraordinário da leitura de um bom livro. O próprio Smiles, talvez, nunca tivesse suspeitado de que sua obra teria um efeito tão decisivo na vida de alguém, e, muito menos de uma pessoa da estirpe de Pasteur.

Por outro lado, temos exemplos incontáveis da  poderosa influência de Cristo e seu Evangelho sobre o caráter e a personalidade total de pessoas que vieram a manter contato com ele e com sua Palavra. 

O Evangelho registra a transformação radical e permanente havida na pessoa de Zaqueu, um desonesto cobrador de impostos, que, aceitando a entrada de Cristo em sua casa e em seu coração, e recebendo, face a face, a influência positiva dos ensinos do grande Mestre, tornou-se uma nova criatura, um novo homem, com novos e recomendáveis princípios de conduta.

O mesmo tem ocorrido na vida de milhares e milhares de pessoas que tiveram suas vidas mudadas para melhor, que nasceram de novo, que passaram a viver e conviver com base em princípios salutares, a partir do seu contato com Cristo e sua Palavra.


Helci Rodrigues Pereira é Pastor, Advogado, Professor,Escritor e também autor dos livros "Pastorais", "O Ser Humano - Reflexões" e "Expressões do Recôndito".

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